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O Alcoolismo

Data: 17/05/2012 15:51

Autor: Ézio Ojeda

    A realidade nacional é bastante grave em relação ao índice de violência relacionada ao alcoolismo. Em torno de 95% dos casos atendidos nos Prontos-socorros brasileiros, a violência e os acidentes de trânsito guardam relação com o álcool. Estatística que costuma se agravar nas épocas de festas vultosas como o Carnaval, feriados e fins de semana. Vivemos uma verdadeira epidemia e não vemos ações políticas contundentes para o seu combate. O que estamos esperando acontecer? Sob o seu efeito, a pessoa tem alterado o seu comportamento e equilíbrio de forma imediata.  img

    Com o uso crônico, suas consequências mediatas podem ser mais dramáticas, desenvolvendo a Esteatose e a Cirrose Hepática, irreversível. E quanto à desagregação familiar e social? O alcoolismo é responsável por inúmeros problemas na relação entre pais e filhos. Diversos casos de absenteísmo tem esta doença como causa principal. São tantos os registros de deficientes físicos por acidente de trânsito que faria disputa acirrada com qualquer episódio bélico da história mundial.    

    É no estômago que 25% do etanol são absorvidos. O restante se dá no intestino delgado. A partir de 0,3 gramas/litro da substância no sangue, sua presença já provoca euforia e diminuição de atenção, através do aumento da liberação da serotonina (neurotransmissor responsável por aquelas sensações). Hoje a Lei 11.705, Lei Seca, admite o limite de 0,06 gramas. Pergunta-se: quem para na segunda latinha de cerveja em uma roda de amigos?

    Não contesto a legitimidade da mobilização social contra o tabaco, mas convenhamos que este outro agravo é, sem dúvida, bem mais fatal. O cigarro, produto de imensa quantidade de componentes maléficos ao organismo prejudica diretamente o usuário e seus conviventes, na maioria das vezes, a longo prazo. A embriaguez não. Quando mata, e mata muito, costuma ser bem mais voraz. É comum nos hospitais verificarmos danos em mais de uma pessoa onde a causa do acidente ou violência foi decorrente da embriaguez. Não me lembro de ter atendido na Urgência nenhum tabagista ou seu parente fumante passivo por conta de Insuficiência Respiratória Aguda com causa comprovadamente isolada do uso da Nicotina ou Alcatrão. Repudiamos o cigarro bem mais que o álcool. Por quê? Esta pergunta me incomoda desde a adolescência, quando atuava em grupos de jovens católicos na Igreja São Gonçalo, aqui em Cuiabá.
 
    Longe de defender o cigarro, expresso indignação contra a nossa complacência ao etilismo. É evidente e notória sua letalidade superior ao fumo e não constatamos programas eficazes para este panorama! Nunca li em rótulo de cerveja nenhuma no Brasil e no mundo que o seu excesso é fatal! Uísque, vinho, cachaça, vodka, chopp, nada é taxado como as carteiras de cigarro, que desde 2001 destacam os malefícios de seu uso, não sendo tolerado nem mesmo com moderação, esta permitida e divulgada para as bebidas. Diante disso, um fato me intriga. Onde está a coerência de um Governo que promove uma monumental estratégia de combate a um tipo de droga e, ao mesmo tempo, autoriza sua comercialização? Se o cigarro é tão nocivo
à saúde, por que não se veta sua comercialização?
 
    Por questão de Justiça, devemos deixar a hipocrisia e nos conscientizar nesta Cruzada pela vida, usando as mesmas armas, já conhecidas na mídia, contra um inimigo mais forte e impiedoso. Os resultados aparecerão bem mais rápido, aliviando nossa Previdência Social claudicante e mais, afastaremos a morte de nossa própria família. O alcoolismo é terceira maior causa de óbitos no mundo, perdendo apenas para o câncer e as doenças cardíacas.
 
    Concordo que seja política e ecologicamente correto combater o tabagismo, mas sejamos mais sensíveis aos milhões de dependentes e vítimas do grande mal social: o alcoolismo. Temos um sério desafio pela frente e não se pode mais negligenciá-lo.
 
    Um bom começo seria discutirmos o assunto antes do primeiro gole e nos horários nobres da televisão...
 
Ézio Ojeda
Advogado e médico
 
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